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DIÁRIO DE BORDO


Saímos de Hamburgo em um sábado cedo, e fizemos uma emocionante conexão em Munique. Aeroporto lotado em função da Oktoberfest e pouco tempo para conexão: quase perdemos o voo! Para deixar tudo mais emocionante, não sabíamos, mas tivemos que passar pelo controle de passaportes. Mesmo fazendo parte da União Europeia, a Bulgária não faz parte do tratado Schengen, uma política de abertura das fronteiras e livre circulação de pessoas. Um olho na fila e outro no relógio, contando os segundos para o embarque e torcendo para o voo estar alguns minutinhos atrasado. Deu tudo certo e chegamos em Sofia na hora do almoço.

Na maioria das vezes, quando citamos algum país do leste europeu, é muito comum ver pessoas torcendo o nariz. Esses destinos são quase sempre subestimados, às vezes pelos próprios cidadãos. Ficamos surpresos quando dissemos a um Búlgaro, que conhecemos aqui em Hamburgo, que iríamos visitar o país dele e ele nos disse que o país era feio, e que não havia nada interessante para ver.

Acho que muitas vezes os próprios cidadãos deixam de valorizar seus países e isso contribui para uma imagem negativa do lugar. Todos os lugares têm suas particularidades, seus pontos positivos e negativos. Não existe um lugar perfeito. Somos nós que podemos fazer de qualquer lugar, um lugar perfeito. Perfeito para cada indivíduo.

Chegamos ao aeroporto do Sofia e já tivemos o primeiro “choque” com a língua. Pela segunda vez eu estava diante de placas cujo significado era impossível de decifrar (A primeira vez havia sido em Praga). A grande vantagem é que os aeroportos possuem a mesma dinâmica como viajamos com as malas de mão não tínhamos necessidade de retirar a bagagem na esteira. O grande desafio foi sacar um pouco de dinheiro no caixa eletrônico ainda dentro do desembarque.

O Lev, dinheiro búlgaro

Do aeroporto de Sofia até o centro da cidade pegamos um trem. Esse trajeto levou cerca de 50 minutos. Descemos na estação mais próxima do hotel, com malas e carrinho de bebê, procurei um elevador. Felicidade total ao encontrar um (não são todas as estações que possuem elevadores!) mas levei cerca de 10 minutos para eu conseguir fazer o elevador funcionar. Sorte novamente! Fui auxiliada por uma adolescente que se compadeceu da minha situação. Além de ser um elevador antigo, era necessário apertar o segundo botão para que ele funcionasse e nos levasse até a altura da rua. Ficamos em um hotel butique: Hotel Anel. O hotel era repleto de obras de arte: diversas esculturas e quadros preenchiam os corredores. Até os quartos possuíam quadros. Aliás, o quarto foi uma agradável surpresa. Foi o maior quarto que já fique de todos os hotéis que frequentei até hoje.

Hotel Anel

Além do quarto com uma cama enorme, havia uma sala com sofá, mesa e um outro sofá cama, além de uma mini cozinha. O banheiro super espaçoso também tinha uma banheira.

Nosso quarto no Hotel Anel

Como chegamos próximo a hora do almoço resolvemos pedir comida no hotel e comer no quarto. Infelizmente nem tudo é perfeito: apesar da linda apresentação, todos os pratos estavam sem tempero.

Nossas escolhas: massa, carne e risoto

O hotel não ficava muito longe da parte central de Sofia, onde estão localizados a maior parte dos prédios históricos. São edifícios em arquitetura neoclássica. Muitas ruas da cidade são feitas com tijolos amarelos e a cidade é muito colorida.

Além dos prédios históricos, é na região central onde a estátua de Santa Sofia (um pouco diferente da ideia “clássica” que carregamos para uma estátua de “santo”, tanto que para alguns a estátua é considerada demasiada pagã).

Estátua de Santa Sofia

A estátua de Santa Sofia foi a primeira que avistamos enquanto caminhávamos em direção ao centro. Ela está localizada na avenida central da cidade sobre um pedestal de 16 metros de altura, na região conhecida por Boulevard Maria Luiza. É feita de cobre e bronze. Possui coroa, laurel e uma coruja, simbolizando poder, fama e sabedoria. Foi erguida onde antes havia uma estátua de Lenin, o primeiro líder comunista da União Soviética.

Nessa região central fica a praça Nezavisimost, um largo com três edifícios da década de 50, entre eles a antiga sede do partido comunista búlgaro (hoje é o Parlamento), além do Palácio Presidencial e o Conselho Ministerial.

Praça Nezavisimost

Na parte abaixo do largo estão sendo feitas obras de restauração. Alí estão as ruínas de uma antiga cidade chamada Serdica. As Ruínas foram descobertas durante uma escavação para expansão do metrô. Grande parte já está visível através de uma cobertura de vidro o nível da rua, mas ainda havia pontos em obras. Todo o complexo arquitetônico se estende da sede do governo até a área do metrô.

Ruínas de Serdica sob a praça Nezavisimost

Seguimos caminhando para conhecer um curioso quadrilátero da tolerância e já explico o motivo desse nome. Nessa região pode-se traçar um “quase” retângulo com distância de 600m (maior lado) e 300m (menor lado), ligando uma mesquita, uma igreja católica, uma igreja ortodoxa e uma sinagoga.

Catedral Católica Romana de São José

Conseguimos visitar a Igreja Ortodoxa de Sveta Nedelya, que foi cenário de um atentado contra o Czar Bóris II, que sobreviveu, mas mais de 100 pessoas morreram e a igreja foi quase totalmente destruída.

Igreja Ortodoxa de Sveta Nedelya

Interior da Igreja Ortodoxa de Sveta Nedelya

Detalhes do interior da Igreja Ortodoxa de Sveta Nedelya

Também foi possível conhecer a Mesquita Banya Bashi, a única que continua aberta ao culto islâmico na cidade. A Mesquita Banya Bashi foi construída pelo mesmo arquiteto na Mesquita Azul em Istambul. Foi a primeira vez que entrei em uma mesquita, assim como também foi a primeira vez que entrei em uma igreja Ortodoxa.

Fotos da Mesquita Banya Bashi

A Sinagoga de Sófia é a terceira maior sinagoga da Europa. Ela foi inaugurada em 1909 e tem a capacidade para acomodar 1300 pessoas. O principal lustre da Sinagoga de Sofia pesa 1,7 toneladas e é o maior do país. Desde 8 de maio de 1992 a Sinagoga de Sofia também abriga o Museu Judaico de História, que inclui as comunidades judaicas da Bulgária, e traz informações sobre o Holocausto e a salvação dos judeus na Bulgária. Infelizmente não conseguimos visitar o Museu Judaico que estava fechado por questões técnicas e não pudemos visitar a Sinagoga porque era feriado do ano novo judaico.

Sinagoga de Sofia

Sofia é conhecida por suas fontes minerais. Ao lado da Mesquita está um prédio construído no início do século XX para ser usado como banho público da cidade, em uma época que nem todas as casas tinham banheiro para tomar banho e funcionou até 1986. Desde setembro de 2015 o prédio abriga o Museu Histórico Regional de Sofia.

Museu Histórico Regional de Sofia

Paramos para tirar algumas fotos na praça do Museu e seguimos caminhando pela parte baixa ao lado das ruínas, até chegarmos na Igreja St. Petka dos Seleiros.

Parte baixa, altura da entrada do metro, onde estão as ruínas de Serdica

A Igreja St. Petka dos Seleiros parece uma casa, mas é uma verdadeira relíquia no centro da cidade. É uma igreja ortodoxa medieval. É um pequeno edifício de uma só nave escavado parcialmente no chão com paredes de 1m de espessura feitas de tijolo e pedra. Hoje [e um monumento da cultura conhecido por suas pinturas dos séculos 14, 15, 17 e 19, representando cenas bíblicas. (infelizmente não se pode fotografar no interior).

Igreja St. Petka dos Seleiros

O dia já estava terminando e encontramos um restaurante ali por perto, a Olio D’Oliva. Um restaurante italiano pequeno, aconchegante e com uma ótima variedade de pratos. O dono foi super simpático e atencioso. Como acompanhamento é servido uma massa de pizza frita e temperada muito saborosa. Também achei interessante a a forma como a conta é entregue aos clientes: dentro de uma caixinha de madeira.

Detalhes da Olio D´Oliva Pizzaria

No sábado pela manhã, após o café da manhã, que por sinal foi bem farto e diversificado, voltamos para a região central para caminhar pelas ruínas e explorar o mercado central.

Mercado Central de Sofia (Halite)

Detalhe da janela do Mercado e Toten na praça ao lado do Mercado Central de Sofia

Mercado Central de Sofia, Halite, está localizado bem em frente a mesquita Ele possui dois andares onde se pode encontrar peixes, frutas, embutidos, flores, roupas e souvenires. A construção do edifício, que se estende por 3200 metros quadrados, começou em 1909 e levou dois anos para ser concluída.

De lá seguimos para conhecer a Catedral de St. Alexander Nevsky, uma catedral ortodoxa búlgara, construída em estilo neo-bizantino. É uma das maiores catedrais ortodoxas orientais do mundo, e também um cartão postal da cidade. Seu domo dourado destaca-se e o interior é escuro, com pinturas por toda a parte. A entrada na Catedral é gratuita, mas para tirar fotos é necessário pagar uma taxa.

Catedral de St. Alexander Nevsky

Detalhes interno da Catedral de St. Alexander Nevsky

Passamos em frente a Sveta Nicolai, ou Igreja Ortodoxa Russa de São Nicolau, uma construção que se destaca na paisagem. Foi construída entre 1907 e 1914 com o propósito de servir como capela da embaixada russa na Bulgária. A entrada é repleta de degraus, e ficamos pouco tempo no interior pois iria começar uma missa (e não pudermos fotografar).

Igreja Ortodoxa Russa de São Nicolau

Restaurante Largo di Serdika Bar& Diner

Nossos pratos no Restaurante Largo di Serdika Bar& Diner

A última construção que queríamos visitar era a Igreja de São Jorge. Enquanto caminhávamos em direção à igreja passamos pela principal praça da cidade onde ocorria um curioso evento com arrecadação de tampinhas plásticas. Pela quantidade de pessoas, e de tampinhas, vimos que a campanha mobilizou grande parte da população da cidade. Muitas pessoas, milhares de tampinhas e rua parcialmente bloqueada. As tampinhas arrecadadas seriam destinadas à projetos sociais. Todos os participantes deixavam sacolas repletas de tampinha e recebiam um certificado com o peso de tampinhas doadas.

Pessoas na praça para entrega de tampinhas plásticas

A Igreja de São Jorge Rotunda é uma antiga construção de tijolos vermelhos. É um pouco difícil localizá-la porque ela encontra-se escondida em um jardim entre o Hotel Sheraton e um prédio do governo. A igreja está rodeada pelas ruínas do palácio de Constantino, o que demonstra que Sofia já era uma cidade importante dentro do Império Romano.

Igreja de São Jorge Rotunda

Igreja de São Jorge Rotunda

Foi construída pelo Imperador Romano Constantino, e hoje é a igreja mais antiga de toda a Europa que ainda está em funcionamento. Infelizmente também não foi possível fotografar o interior porque em Sófia é proibido tirar foto dentro das igrejas. O interior dessa igreja é muito bonito. Nas paredes e no teto as camadas de pinturas contam a história da humanidade e da religião cristã.

Voltamos para o hotel a tempo de nos refrescarmos na piscina. Curiosamente quando fizemos a reserva recebemos uma mensagem informando sobre a piscina (aquecida) e as exigências para entrar: uso de toucas. Fomos preparados e conseguimos desfrutar alguns minutinhos na água (que ao meu ver não era tão aquecida assim!).

Piscina do Hotel Anel (fechada, coberta e aquecida)

Com o retorno agendado para a segunda feira próximo à hora do almoço, tomamos aquele café da manhã reforçado e, como sempre, pegamos alguns snacks e frutas para comer no caminho.

Aeroporto e estação de metro do aeroporto

A escala da volta foi pelo aeroporto de Frankfurt, com um pouco mais de folga (2 horas), o que nos permitiu parar para comer uma bela Würst (salsicha), o que é o mais fácil de achar quando se está em terras alemãs.

No geral, gostamos muito de Sofia. Uma cidade que parece estar se revitalizando e um povo bastante prestativo e atencioso.

De uma forma geral a impressão que tivemos da cidade foi muito positiva. Encontramos pequenos grupos de turistas caminhando com guias, o que nos indicou que o turismo também é um setor explorado pela cidade (pouco, porém existe).

Igreja de São Jorge Rotunda

Outro bonito aspecto que nos chamou atenção foram os jardins das praças todos estavam muito floridos limpos. Tivemos um pouco de dificuldade em relação à acessibilidade usando o carrinho de bebê especialmente na região próxima a estátua de Santa Sofia. Ali são poucos pontos onde se pode cruzar as ruas o que dificulta muito passar de um lado a outro para visitar os prédios históricos (existe elevador, mas muito concorrido).

Sofia é uma cidade muito bonita e vale a pena incluí-la no roteiro se você viajar para a região dos Bálcãs.

DA PRÓXIMA VEZ…


Se um dia tivesse a oportunidade de retornar a Sofia, certamente iria. Gostaria muito de ter visitado a Sinagoga de Sofia e o Museu Histórico Regional de Sofia.

Outro importante e bonito edifício que não conseguimos ver foi o Teatro Nacional, rodeado pelo seu belo jardim.

Por último, não tivemos tempo de provar a culinária dos Bálcãs. No geral são Carnes, batatas, molhos e maioneses preparadas com muitos condimentos. Dizem que até as barraquinhas de rua são ótimos pontos para provar os sabores búlgaros. Viajando com criança por um curto tempo, acabamos ficando entre as escolhas mais “comuns” para as refeições.

ECONOMIZE TEMPO E DINHEIRO


Em geral o custo para se comer na cidade não foi muito alto. Para se locomover, apenas usamos o transporte público para o aeroporto e andamos muito (já que todas os prédios estão localizados na região central). Em valores de hoje, pagamos uma média de 7-8 euros uma pizza individual (grande) e cerca de 11 a 14 euros um prato (em 2019).

Comparado a outros países europeus, custos de refeição e hospedagem na Bulgária foram menores do que Portugal, que até então eu considerava ser um dos destinos não tão caros na Europa (quando se pensa em França, Alemanha, Holanda, Reino Unido, Itália, por exemplo).

Antes de reservar o hotel, por exemplo, eu usei um site de buscador de preços, o que nos permitiu ficar em um hotel considerado de categoria “luxo” por um preço bem interessante.

NOTAS DE VIAGENS


Sobre Sofia:

A capital da Bulgária é praticamente uma viagem no tempo, e uma aula de história. Isso porque em todos os lugares será possível encontrar uma antiga igreja, ruínas ou mesmo prédios da época do regime soviético.

O visitante ainda encontra praças bem cuidadas e arborizadas, repletas de flores (ponto negativo para algumas calçadas bem irregulares). Além disso, o povo búlgaro foi super solícito e atencioso.

Não deixe de ver:

Todos os prédios que visitamos são, sem sombra de dúvidas, imperdíveis. Além disso, imaginar que em um raio de 500m é possível encontrar prédios de religiões diferentes, convivendo pacificamente trouxe uma sensação de paz.

Mesmo não precisando usar o metro, visite a estação Serdica (praça Sveta Nedelya). Alí foram encontradas diversas ruínas da antiga cidade e estão expostas nos corredores.

Somando Coordenadas recomenda:

  • Olio D’Oliva Pizzeria , ul. “Tsar Samuil” 60, 1000 Sofia Center, Sofia, Bulgária: (42.69812811010909, 23.31819587116352)
  • Largo di Serdika bar&diner, bulevard “Knyaginya Maria Luiza” 2, 1000 Sofia Center, Sofia, Bulgária: (42.698216515268086, 23.322729057653536)

Compras:

Encontrei muitas lojinhas de presente e souvenires na região do Mercado Central, mas minhas “compras” foram resumidas a um adesivo para a minha mala viajante (veja a quantidade de adesivos na fotinho abaixo).

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