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DIÁRIO DE BORDO


Quero começar o blog com o relato da última viagem para Veneza, em outubro desse ano. Essa escolha não é por um acaso, aliás, nada é por acaso. Veneza também não foi meu único destino até aqui, mas foi, certamente, o que me moveu, há 10 anos, para fazer minha primeira viagem internacional, quando estive na cidade pela primeira vez em janeiro de 2010. Foi depois de uma reportagem em um telejornal que me apaixonei e tive vontade de conhecer a cidade. Eu tinha 14 anos quando ouvi falar de Veneza pela primeira vez. E há pouco tempo, lá estava eu novamente, na cidade que surgiu de um pântano e, hoje, flutua sobre as águas.
Aproveitamos que meu marido tinha um evento em outra cidade italiana, Florença, e demos aquela “esticada” para passear em Veneza. Mais uma vez, a escolha não foi por mero acaso. Atualmente moramos em Hamburgo, na Alemanha, e não existem voos diretos para Florença. Como o tempo de conexão seria muito curto em cidades como Frankfurt ou Munique (que possuem aeroportos ENORMES), temíamos perder o voo ou mesmo chegar na cidade sem as malas (uma experiência nada legal, acreditem!). Então aproveitamos que existem voos diretos para Veneza partindo de Hamburgo e “quebramos” a viagem, seguindo de Veneza para Florença de trem.
Se a sua escolha é chegar à cidade de avião, existem duas opções próximas: o aeroporto Marco Polo, em Veneza; e o aeroporto em Treviso. Chegamos em Treviso, com a companhia low cost Ryanair, e pegamos um ônibus para Veneza. Os tickets podem ser comprados em máquinas na sala de desembarque, próximo às esteiras, ou adquiridos em um guichê na saída do aeroporto (que é pequeno, por isso não tem risco de se perder!). Ao lado das máquinas existem os horários de saída dos ônibus, tanto de Treviso quanto de Veneza, mas você pode consultar no site os horários e comprar os tickets no próprio site da empresa ATVO (https://www.atvo.it/en-home.html#). Existe a opção de comprar apenas um trecho ou ida e volta (caso você volte pelo mesmo aeroporto). O trajeto leva cerca de 1 hora, e possui duas paradas em Mestre antes de chegar a terceira e última parada: Piazzale Roma, em Veneza, onde chegam os ônibus do continente.
E assim chegamos a Veneza, ao final da tarde de uma quinta-feira, e seguimos em direção à Estação Santa Lucia. Como da primeira vez, bateu aquele frio na barriga ao ver as luzes refletindo nas águas do Grand Canal. Não sei explicar, mas fico emocionada por estar em Veneza.
Mas a emoção passou rápido quando cruzamos a primeira ponte, a Ponte della Costituzione. Ela é a ponte mais moderna sobre o Grande Canal, diferindo do panorama da cidade. Apesar de moderna, essa ponte não tem acesso para cadeirantes e, assim como a maioria das demais pontes, são degraus e mais degraus para se chegar ao outro lado. Conseguiu entender nossa decepção? De um lado, a linda Veneza, do outro, um casal com malas e, para maior animação, um carrinho de bebê, e, entre nós, vários degraus nada encorajadores.

Quando estive na cidade pela primeira vez, cheguei de trem, já “dentro” da cidade e com uma leve mochila de uns 18 kg nas costas. Dessa vez a história era outra. Mas não nos deixamos desanimar. Nossos três dias em Veneza estavam começando, e cabia somente a nós decidirmos se lamentaríamos o fato de ter tantos degraus assim na cidade, ou se simplesmente abandonaríamos o carrinho no hotel.

Praça em frente à Estação Santa Lucia

Seguimos para o nosso hotel, o Hotel Nazionale, bem próximo à estação de trem. Não é um hotel que eu indicaria ou que ficaria novamente. Tem uma estrutura muito antiga (claro, como tudo em Veneza), mas o aspecto poderia ser melhor cuidado. Ficamos em um quarto relativamente pequeno, para acomodar, além da cama de casal, um berço para a bebê. Com paredes revestida por tecido e um sistema de climatizador que não funcionava direito, nossa sorte foi que a temperatura local estava super agradável, entre 15 e 20 graus. No entanto o banheiro estava recém reformado, bem moderno e limpo. O café da manhã também deixou a desejar. Poucas opções e aspecto de produtos não frescos. Apenas para dormir e tomar banho, foi uma escolha aceitável.

Encontramos um bom restaurante bem próximo ao hotel para jantar. Esse eu indico, certamente! Um lugar simples, mas com uma comida muito gostosa e um ótimo atendimento: Trattoria Alla Ferrata. Para família com crianças, eles dispõe de cadeirões. A gastronomia típica de Veneza é a base de frutos do mar. Pedi um Spaguetti alla Busara. Simples, mas delicioso!

No dia seguinte, fizemos os passeios típicos de turistas. Optamos por começar nosso passeio pela Piazza San Marco. Em Veneza é assim: ou você escolhe caminhar e se perder entre ruelas e canais, ou segue de Vaporetto (o sistema de transporte sobre as águas). O tempo estimado para ir de Vaporetto ou caminhando era quase o mesmo, 27 minutos. Escolhemos caminhar os 2,1 km. Quanto ingenuidade!

Certamente faríamos em um tempo até mais curto caminhando, pois estamos acostumando a andar (e muito) em Hamburgo. Mas, na maioria das vezes, a bebê está no carrinho e não temos escadas para atravessar de uma quadra a outra. Pois bem, levamos 1 hora pois temos uma bebê, a Luisa, que estava super animada para caminhar e para subir e descer os incontáveis degraus pelo caminho. E se engana quem pensa que ela pediu colo! No máximo aceitou ser carregada nos ombros do pai.

A vantagem do nosso trajeto foi descobrir diversos cantinhos mágicos, daqueles que você quer fotografar, emoldurar e pendurar na parade, para relembrar sempre. Veneza tem desses encantos. Pode ser um barco preso a uma estaca com uma corda, uma parede colorida com parte do reboco solto, ou alguma porta entreaberta revelando um verdadeiro jardim vertical formado por vasos repletos de flores e folhas. Fato é que desafio você a andar pela cidade e não parar para tirar foto em cada ponte que passar.

A praça estava repleta de turistas, mas nada impossível de andar. No meses de alta temporada (junho a setembro) fica um pouco mais difícil. Escolhemos visitar a Basílica de San Marco. Havia uma pequena fila, de no máximo uns 10 minutos. Foi o tempo exato para eu esperar na fila, enquanto meu marido deixava a mochila no guarda volume da igreja (existem diversos avisos ao redor da igreja orientando para a localização desse guarda volume, localizado em outro prédio próximo). Não precisa pagar nada para usar o guarda volume, mas os objetos só podem ser guardados por uma hora.

Basílica de São Marcos

A entrada na Basílica é uma das poucas atrações gratuitas da cidade, no entanto, no interior, paga-se para visitar o Tesoro della Basílica e o Pala d’oro , um grande altar de ouro, decorado com prata e pedras preciosas, atrás do altar principal. Dessa vez vimos apenas o Pala d’Oro (2 euros por pessoa). Acreditamos que seria um pouco desgastante para um bebê ficar muito tempo em um local fechado e sem poder correr, explorar e andar livremente (como toda criança sempre quer fazer!). Infelizmente não se pode tirar fotos do interior da Basílica. Acredite que, assim como o exterior impressiona com seus lindos mosaicos, o interior não deixa por menos, também repleto de mosaicos contendo ouro, bronze e pedras.

Mosaicos da fachada da Basílica de São Marcos
Porta da Basílica de São Marcos

Almoçamos em um ótimo restaurante próximo à Piazza San Marco. Também deixo a indicação aqui: Ristorante Centrale. Havia lido boas recomendações no TripAdvisor e não me decepcionei. Além de uma Burrata super fresca, optei por um Ravioli de cogumelos. Ficamos tentados a pedir uma sobremesa, mas como não daremos doce para a bebê até ela completar dois anos, ficaria um pouco difícil disfarçar na frente dela. Outro ponto positivo, e que certamente nos salvou, é que tem trocador no banheiro. Famílias com bebê podem ir sem medo!

Na parte da tarde, como previsto, Luisa caiu no sono. Abrimos o carrinho (sim, resolvemos não deixá-lo no hotel) e ela dormiu tranquilamente, por umas duas horas. Enquanto isso, nos aventuramos a encontrar um lugar calmo e gostoso para tomar um café e adoçar ainda mais a vida. Chegamos à Pasticceria Da Bonifacio, um café escondido atrás da antiga prisão. Uma mesma família é proprietária do café há mais de 100 anos. O lugar é pequeno, sem cadeiras, apenas um balcão, mas isso nem fez falta! No tempo em que estivemos alí, vimos praticamente apenas moradores locais entrar e sair para um café, um doce ou buscar alguma encomenda. Adoro lugares assim! Nada melhor do que conseguir encontrar lugares frequentados, na sua maioria, por moradores e não turistas.

Seguimos passeando pela região da praça de São Marcos enquanto a pequena dormia e subimos no Campanário para admirar a vista. É considerado o prédio mais alto de Veneza, com 98,5 metros. Em 1902 colapsou e foi novamente construído. Sua forma atual é de 1912. No alto está uma pirâmide e, no topo, um cata-vento dourado na forma do arcanjo Gabriel.  Segundo os locais, quando o arcanjo se vira para a Basílica é sinal que as chuvas começaram e, com isso, o período da Acqua Alta.

A subida é feira com elevador e paga-se 8 euros por pessoa (crianças até 6 anos não pagam).

Vista do Campanário da Praça de São Marcos

Já novamente no chão da Piazza foi o momento de acordar Luisa para um lanche (sempre levo alguns snacks especiais para bebê ou muffins de cenoura que ela adora!). Se quiserem garantir o lanche, ou qualquer outra opção que estejam comendo enquanto passeiam pela praça, guardem essa dica! Comam escondido das gaivotas! Pode parecer loucura, mas depois dos pombos que são alimentados por milhares de turistas, as gaivotas se tornaram um “problema”. Não porque elas precisam ser alimentadas, mas porque são extremamente autônomas para escolher e roubar aquilo que quiserem comer. E, acreditem, elas avançam mesmo!

Nossa pequena viajante só não ficou sem seu muffin porque acredito que o sanduíche da turista chinesa ao lado estava mais atrativo!

Seguimos nosso típico passeio de turistas e fomos passear de gôndola. Confesso que não esperava que a Luisa se divertisse tanto! Existem vários gondoleiros na região da Piazza de San Marco e todos praticam os mesmos preços (claro, sempre vale negociar, e foi o que fizemos). No geral, eles oferecem um passeio de 30 ou 60 minutos (80 ou 160 euros). Conversamos e fizeram um passeio de 45 minutos por 100 euros (ah, passando sob a famosa Ponte dos Suspiros).

Durante o passeio, o gondoleiro segue explicando sobre a cidade, alguns pontos específicos do passeio e tirando dúvidas caso você tenha alguma curiosidade sobre a cidade.

Registros do nosso passeio de gôndola

Depois de milhares de fotos e muitos dedinhos apontando para todos os lados, desembarcamos e fomos visitar o Palazzo Ducale (Palácio Ducal ou Palácio do Doge). Foi a antiga sede do Doge de Veneza e da magistratura da cidade.

O interior mantém uma grande galeria de artes, com obras de famosos mestres venezianos. São diversos salões, entre eles, a Sala del Maggior Consiglio, ou salão principal, com um dos maiores quadros a óleo do mundo do artista veneziano Tintoretto.

“O Paraíso” de Tintoreto

Pelo interior do palácio pode-se atravessar a famosa Ponte dos Suspiros. A ponte é assim chamada por ser o caminho que levava à antiga prisão e por onde passavam os prisioneiros e “suspiravam” ao ver a cidade pela última vez. O ingresso para o palácio custa 25 euros para 1 adulto. Anotem essa dica: a atendente nos vendeu um ingresso família, que dava direito a dois adultos e duas crianças ao valor de 26 euros tudo! Valeu a pena!

Vista de dentro da Ponte dos Suspiros

Fechamos nossa noite no Restaurante San Silvestro, com filé de atum com crosta de gergelim,  linguine alla busara e o melhor tiramisu e panna cotta que eu já comi da vida! (não, embora eu quisesse muito, eu não comi sozinha duas sobremesas, dividi com meu marido, assim, a gente experimenta um pouco de cada!). Um perrengue clássico para famílias com bebês, que passamos nesse restaurante, aconteceu logo depois do jantar. Luisa precisava de uma fralda nova, e infelizmente o restaurante não dispunha de trocador. No entanto, o atendente, super gentil, levou duas cadeiras para o banheiro, colocando uma em frente à outra, e assim, resolvemos nosso problema.

No terceiro e último dia de Veneza acordamos cedo e fomos passear por uma região não muito turística (San Polo). Gostei muito dessa região. Por ser um sábado de manhã, encontramos muitos moradores carregando sacolas de compras de mercado, encontro de amigos na padaria, cães passeando com seus donos e, próximo à hora do almoço, vários estudantes voltando da aula. Não podíamos fazer algo muito longe, e nem muito demorado porque nosso trem para Florença partia próximo das 15h, por isso, aproveitamos mesmo para caminhar, descobrir alguns prédios lindos e super antigos, tirar algumas fotos e, claro, planejar uma volta à cidade, afinal de contas, Veneza têm muitas atrações e muito para descobrir e eu, sempre disposta a somar novas coordenadas na minha lista de descobertas pelo mundo.

DA PRÓXIMA VEZ…


Sou tão apaixonada pela cidade, que o meu relato de viagem ficaria pequeno perto de todos os lugares que ainda gostaria de visitar por lá, mas vou deixar aqui apenas as prioridades “número 1” para a próxima visita à cidade.

Se você está em Veneza, você está na Itália, e nada mais típico do que visitar as igrejas. Eu acho as igrejas italianas belíssimas, e infelizmente só consegui ver a Basílica de São Marcos. Na lista de visitas futuras, eu coloco a Igreja de San Giorgio Maggiore (e seu Campanário, que dizem ter uma vista mais linda que o campanário da Praça de São Marcos), a Basilica di Santa Maria della Salute e a Igreja Madonna Dell’Orto.

Quero explorar um pouco mais a região de San Polo e, se possível, me hospedar por lá e, por último, mas não menos importante, deixar um dia para conhecer a Ilha de Murano e visitar uma fábrica de cristais de Murano. Fiquei com muito receio de fazer uma visita à uma fábrica de cristais por conta da idade da Luisa, mas já li relatos de crianças pequenas que foram e gostaram. Então, por que não tentar em uma próxima oportunidade?!?!

ECONOMIZE TEMPO E DINHEIRO


  • Reservas: procure reservar os restaurantes com antecedência para garantir sua mesa. Não se iluda com a época do ano, Veneza é sempre um destino muito procurado por milhares de pessoas. Muitos restaurantes possuem sistema de reserva online.
  • Ingresso antecipado: pesquise os pontos que quer visitar e se é possível adquirir ingressos pela internet. Dessa forma pode-se evitar filas enormes e, às vezes, a decepção de não conseguir entrar em uma atração.
  • Ingresso família: algumas atrações oferecem ingresso família (geralmente válido para dois adultos e duas crianças). O ingresso família, mesmo para quem tem apenas um filho (e as vezes até quando a criança não paga), pode sair mais barato do que adquirir ingressos avulsos.

NOTAS DE VIAGEM


Sobre Veneza:

Esteja preparado para andar e se perder pela cidade. Claro que existem placas indicando as direções, mas será inevitável não se sentir perdido entre tantas passagens estreitas, pontes e canais.

Poucas pontes são acessíveis. Encontramos apenas 2 com uma rampa adaptada.

Nos meses de outono-inverno, com mais intensidade entre novembro e dezembro, é o período da Acqua Alta em Veneza. Pode durar alguns minutos ou algumas horas. Dependendo do nível da água, pode ficar inviável andar pela cidade.

Não deixe de ver:

Certamente o cartão postal da cidade é a Praça de São Marcos e a Basílica. Vale a pena subir no campanário e contemplar a cidade do alto. Perto dalí está a Ponte dos Suspiros (ligando o Palácio Ducal à antiga prisão).

O Palácio Ducal também vale a pena visitar, mas para ver tudo com calma, são necessárias umas 3 horas.

Passe pela famosa ponte Rialto e pare para admirar o Grand Canal. E, claro, se presenteie com um passeio de gôndola pelos charmosos canais da cidade.

Somando Coordenadas recomenda:

  • Restaurante San Silvestro: Rio Terrà S. Silvestro, 1022B, 30125 Venezia VE, Italy (45.437795, 12.333219)
  • Trattoria Alla Ferrata: Calle Larga dei Bari, 1103, 30135 Venezia VE, Italy (45.440286, 12.325215)
  • Ristorante Centrale: Calle Specchieri S. Marco, 425, 30124 Venezia VE, Italy (45.435339, 12.339409)
  • Pasticceria Da Bonifacio: Calle degli Albanesi, 4237, 30122 Venezia VE, Italy (45.434878, 12.341515)

Compras:

O que mais se vê na cidade são as famosas máscaras de carnaval e peças de cristal. Cuidado para não ser enganado. Nem todos são cristais de Murano (o famoso Made in China já dominou o mundo!). Além disso, você pode encontrar lindos lenços e doces artesanais locais.

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